quarta-feira, 4 de setembro de 2013

80 Anos da ABCCC: Nasce um caval

ABCCC - 80 Anos


Era um tipo esculpido na natureza mais bruta: quem via aquele cavalo nos campos imaginava que além de correr, laçar, pechar e parar rodeio, também serviria para o arado. Ou para a guerra.
O antepassado desse cavalo, o berbere, tinha sido montado pelos mouros. Cavalos pequenos, revueltos, ágeis e valentes, contornavam o choque com as tropas espanholas e ofereciam outro viés aos guerreiros para a vitória no combate. Bem que o Coronel Delfino Rieth, nos idos de 1918, imaginou que esse cavalo seria bom para a guerra.
Era ainda um tempo de silêncios, longos campos, comunicação difícil. Mas havia aqueles que, à luz dos lampiões, anotavam o que eram esses cavalos. Falavam de éguas de trote firme e imelhorável. De mães que, mesmo prenhes, se entregavam ao trabalho da campereada e pariam lindos potrilhos na primavera.
Até que alguns deles viram que havia algo em comum nessa cavalhada. Eram medianos no tamanho, fortes de osso e músculo e não negavam trabalho.
No dia 28 de fevereiro de 1932, um grupo de criadores funda a ACCC, em Bagé, que depois viria a ser a ABCCC - Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos. O primeiro cavalo a obter registro definitivo foi Pelo de Oro, importado do Haras El Cardal, da Argentina, em novembro de 1933. Vieram junto com ele ainda Mozo Vivo e Naro Cardal, que viriam a ser registros dois e três do stud book nascente. Assim iniciava uma associação para unir criadores e lapidar uma raça. As anotações começaram nas revisões de manadas a campo e registros em cadernos e livros. Depois, pedigrees datilografados, até evoluir para a árvore genealógica e chegar ao modelo atual. Simbolicamente, a mão e o olho do homem fez e faz tudo isso, desde a primeira resenha até hoje, nas mangueiras, nos potros ao pé da mães, desenhando os sinais, identificando as pelagens. 
 
Cinco séculos sustentam essa história no garrão da América. O cavalo foi falquejado no brunir dos invernos, no alvorecer das primaveras, no trote das distâncias. O homem foi o lapidador, o escultor da pedra bruta, o incensador das linhas que o tempo ajudou a desenhar.
Beleza, brio, valentia, temperamento – ou algo maior chamado alma – fazem esse cavalo. O nome que leva remete a sua raiz. Crioulo. O crioulo brotou deste chão.
 

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