domingo, 6 de outubro de 2013

Úlcera Gástrica nos Eqüinos

Úlcera Gástrica nos Eqüinos
Úlcera Gástrica nos Eqüinos (causas e tratamento)
As úlceras e gastrites dos cavalos são causadas por muitos fatores, entre eles o uso indiscriminado de medicamentos. O tratamento inclui manejo nutricional e medicação especifica.
Introdução: a incidência de úlceras e gastrites em cavalos de esporte é elevada, chegando entre 70 a 90% dos animais, dependendo das condições de manejo. Um dos fatores desencadeantes ou agravantes é o uso de alguns antiinflamatórios não esteroídais (AINES), dos quais a fenilbutazona é o exemplo mais conhecido. Para diminuir este problema, um recuso possível é o uso do omeprazol em paralelo com tratamento com AINES, visando reduzir a irritação da mucosa gástrica que leva o surgimento da gastrite, que pode evoluir para úlcera. É importante entender que este processo se dá pela ação inibitória que os AINES têm sobre as prostaglandinas (substancias relacionadas ao mecanismo inflamatório), que diminui, entre outros, a produção de muco protetor da mucosa gástrica. A via de administração dos AINES não influencia em nada; tanto os produtos orais quanto os injetáveis têm esta ação sobre a mucosa gástrica.

Etiologia
A administração excessiva de AINES pode causar ulcerações no estômago, mais freqüentemente na porção aglandular próximo à prega Margus Plicatus. Essas lesões costumam ser profundas e se apresentam em  coloração amarelada. Esta aparência está relacionada com a interrupção do fluxo sanguíneo para as mucosas, através da inibição da síntese de prostaglandina na mucosa gástrica.
A úlcera gástrica, tanto em potros quanto em cavalos adultos, é resultado de um desequilíbrio entre os fatores agressores (ácido hidroclorídrico, pepsina e ácido biliar) e os protetores das mucosas ( muco, bicarbonato, prostaglandina E2, fluxo sanguíneo, processo regenerativo da mucosa e fator de crescimento epidermal), decorrente de algum processo patológico. O estresse (animal estabulado, viagens, treinamento equivocado) e a doença ( jejum prolongado, pós-operatório, uso de AINE) são fatores importantes no desenvolvimento de úlceras e a percepção dos sinais clínicos pode levar a um diagnostico antecipado.

Prevalência e Localização
A prevalência estimada de lesões gástricas varia de 25% a 50% de potros e de 60% a 90% em eqüinos adultos dependendo da idade, do exercício desenvolvido e da população avaliada.
Uma alta prevalência (acima de 90%) tem sido observada principalmente em animais submetidos a treinamento para corridas e provas de alto desempenho ( Freio de Ouro, Apartação, Rédeas, Baliza e Tambor), afetando principalmente o desempenho atlético desses eqüinos.
As úlceras são mais comumente encontradas na mucosa escamosa ou anglandular adjacente ao marco plicatus, ao longo da curvatura maior e menor do estomago. Em caso mais severos de ulceração pode estender-se à mucosa glandular do fundo.

Sinais Clínicos
Animais afetados normalmente apresentam sintomatologia não especifica. Os sinais mais comuns incluem desconforto abdominal, perda de apetite(anorexia) e depressão. Já em potros, a diarréia é o sinal clinico mais freqüente em caso de úlcera gástrica. Outros sinais incluem cólicas, ranger dos dentes, salivação aumentada e febres.

Gastroscopia
Para diagnostico, o exame visual do estômago através de endoscópio (gastrocopio) é indicado quando o animal apresenta cólicas e perda de peso crônica.
Este exame deve ser realizado em ambiente calmo. Se necessário, o animal pode ser tranqüilizado com xilazina na dose de 0,5mg/kg ou detomidina 0,02-0,04/kg IV. O ideal é que o animal submetido a esse exame esteja em jejum de 12 horas de alimentos sólidos e 4 horas de liquidos.
Depois de introduzir o gastrocópio em uma das narinas, o aparelho deve passar pelo esôfago e o clinico deve observá-lo cuidadosamente em busca de anormalidades. Para melhor observação do estomago, este deve ser distendido por ar através do gastrocópio, para que as regiões glandulares e anglandular sejam bem visualizadas. O esvaziamento gástrico também pode ser feito através sonda nasogástrica e pelo uso de metoclopramida na dose de 0,125mg/kg (Plasil) ou cloreto de betanecol ( Liberin), dose de 0,025mg/kg pela via intravenosa.
Infelizmente, ainda existem poucos gatrocópios adequados para eqüinos no Brasil, o que restringe o uso pratico deste exame.

Tratamento
Usa-se medicamento que bloqueiem o efeito inibidor da secreção mucosa que é apresentado pelos AINES. O ideal sejam drogas que tenham um efeito anti-secretor prolongado, permitindo uma única administração diária.
O omeprazol se mostrou mais eficaz que outras drogas, tais como a cimetidina e a ranitidina, na cura de úlceras da porção anglandular em eqüinos submetidos a exercícios extenuantes. Depois do tratamento inicial de 28 dias com uma dose de 4mg/kg por via oral, uma dose menor diária (meia dose) se mostrou eficaz na prevenção e recorrência da doença.

Conclusão
O uso de fenilbutazona na clinica médica de eqüinos ainda hoje é imprescindível devido a sua potente ação antiinflamatória, sendo por isto aconselhável o uso conjunto do omeprazol na dose de 2mg/kg na prevenção de lesões gástricas.  Esta dosagem de omeprazol também pode ser feita em casos de transporte, manejo de potros, intensa atividade atlética e administração de outros antiinflamatórios não esteroidas.
FONTE: CÁSSIA FRÉ DA COSTA (Medica Veterinária com pós-graduação em diagnostico e cirurgia de eqüinos)
Natalia Telles Schimidit (Médica Veterinária com pós-graduação em diagnostico e cirurgia de eqüinos)
HORSE´S LIFE, outubro de 2010. Edição nº7

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