domingo, 6 de outubro de 2013

IMPRINTING

IMPRINTING
O que é IMPRINTING?
O treinamento comportamental de potros recém-nascidos, conhecido como Imprinting (traduzido literalmente como impressão), foi largamente veiculado e popularizado no mundo Hípico a partir de 1991 pelo medico veterinário norte-americano Robert Miller.
Em etologia (estudo comportamental das espécies), Imprinting é o processo no qual um animal jovem aprende a reconhecer indivíduos específicos (no caso mãe) e outros seres de sua espécie. Esse processo, em geral, é uma resposta automática a estímulos específicos implantados durante o prazo de tempo em que o animal é sensível a esses estímulos. Esse prazo, denominado de sensitivo, é de horas ou dias, e especificamente ativo logo nas primeiras horas após o nascimento. A capacidade de o filhote reconhecer a mãe, identificá-la e segui-la, é importante para a sobrevivência do individuo, especialmente nas espécies em que o filhote se movimenta e seguem o grupo logo após o nascimento, tal como é o caso dos eqüinos.
O exemplo mais conhecido é o dos patinhos e gansos, cujo estimulo do Imprinting ao sair do ovo é seguir a primeira coisa que ele enxergar em movimento. Assim, é comum vermos esses animais seguindo crianças e cães e não suas mães porque aqueles foram a primeira visão que as pequenas aves tiveram de algum movimento (estimulo) ao eclodirem do ovo (período sensitivo).
Robert Miller publicou livros e vídeos com base na idéia de que o lapso de tempo de até duas horas após o nascimento seria o período sensitivo do potrinho, uma vez que é nesse tempo que ele aprende a reconhecer e seguir sua mãe.
O pesquisador preconiza que se houver interação com o potrinho nesta “janela” de tempo, ( por vezes antes mesmo de o potro levantar e mamar), o homem poderia moldar permanentemente o comportamento e a personalidade do recém-nato para que o animal fique mais manejável, calmo, confiante e por conseqüência tornar-se um cavalo mais fácil de treinar no futuro.
Isso acontece por vários fatores. Inicialmente porque o potro faria a ligação com o homem ao mesmo tempo em que faria com sua mãe, e nesse caso não o veria como um predador. O potro reconheceria o homem como dominante e se submeteria sem medo e poderia ser dessensibilizado permanentemente a estímulos comuns que ele encontrará ao longo da sua vida ( como o barulho de tosquiadeiras, ao tocarmos as suas orelhas, olhos e patas, introdução dos dedos em suas narinas, etc.).
Nos Estados Unidos, muitos anúncios de potros à venda citam que este ou aquele tiveram trabalho de Imprinting ao nascer, dando uma possível “garantia” de um animal mais calmo e manejável.
Por outro lado, o método do Dr. Miller foi combatido por alguns veterinários e hipologistas que  sugeriam que o treinamento de Imprinting poderia estressar desnecessariamente o potrinho recém-nascido por atrasar o tempo que ele levaria ingerir o colostro.
Argumentavam também que se o método fosse feito incorretamente poderia produzir um potro menos manejável ao crescer, porque interferiria na ligação do potro com a mãe criando animal “mimado” pelo homem.  Este não respeitaria o espaço do ser humano ( o que poderia vir a ser muito perigoso conforme o potro cresce), e se tornaria um potro completamente insensível aos estilos e sem respostas instintivas, tornando-o mais difícil de treinar e por vez criando cavalos agressivos e não submissos, como muitas vezes acontece no caso de potros órfãos amamentados na mamadeira.
Com base nestas opiniões opostas, dois trabalhos científicos em Imprinting acabaram de ser publicados pela Universidade do Texas, que esclarecem muitas duvidas.
Os dois trabalhos concluíram que o treinamento de Imprintig verdadeiro, onde o que é aprendido é fixado por um longo tempo, não acontece nos eqüinos.
Os pesquisadores conduziram dois estudos onde dividiam os potros em grupos que não recebiam treinamento em Imprinting (grupo controle), e grupos que receberam Imprinting logo após o nascimento, e outro que receberam treinamento em vários intervalos de tempo diferentes.
A pesquisa seguiu a técnica de Imprinting do Dr. Miller, soldando após o treinamento, os potros no pasto com suas mães com mínimo contato com seres humanos. Estes animais eram recolhidos e testados para taxa cardíaca, comportamento e respostas aos estímulos dados.
O primeiro estudo focalizou a eficácia do treinamento de Imprinting. Foi observado o quanto de informações referentes ao treinamento foi retida pelos potros e por quanto tempo. Dos 47 animais de estudo, 25 sofreram Imprinting e 22 não. Com um e dois meses d vida, os potros que tiveram o treinamento apresentaram melhor resposta aos estímulos e menor taxa cardíaca do que os do grupo controle. Já os três meses os potros não apresentaram diferenças significantes entre eles. Concluiu-se que as sessões de treinamento precoce foram se apagando com o tempo, o que não deveria ocorrer se o Imprinting verdadeiro tivesse ocorrido.
O segundo estudo focou na busca do período de tempo ideal para se processar o treinamento. Foram usados 131 potros divididos em sete grupos. O primeiro não teve treinamento (controle); o segundo foi treinado logo após o nascimento; o terceiro foi treinado ao nascer e reforçado às 12, 24 e 48 horas de vida.
Os outros 4 grupos tiveram um único treinamento respectivamente com 12,24,48 e 72 horas após o nascimento.
Depois disso os potros foram soltos no pasto com suas mães por seis meses, quando estão foram testados para resposta aos estímulos do treinamento, taxa cardíacas e comportamento. Os resultados foram muitos similares ao do primeiro estudo e não apresentaram diferenças significativas ente nenhum dos grupos.
Os pesquisadores concluíram que o que realmente funciona com eqüinos não é o treinamento de Imprinting, e sim o treinamento regular que nesse caso deve ser confirmado constantemente ou será esquecido.
Como ponto positivo do método, eles afirmaram que o treinamento dos potros iniciados o mais cedo possível tem melhor resultados, uma vez que eles logo aprendem q não temer o ser humano e a colaborar com o manejo, desde que os estímulos sejam repetidos com relativa freqüência.
Finalmente, provou-se que não há necessidade da presença do proprietário ou do veterinário na madrugada, na hora do nascimento especificamente para treinar o potro. O treinamento do potro pode ser iniciado a qualquer momento, de 24 horas a três dias ou mais de vida sem diferenças significantes na qualidade da resposta. Entretanto, se o trabalho não for concluído com sessões subseqüentes todo o treinamento será perdido.
Podemos constatar que na maioria das vezes a ciência acaba por provar que as pessoas que trabalham com cavalos já perceberam a muito tempo atrás. No ramo do cavalo, a capacidade de observação aliada ao bom senso ainda trazem melhores resultados.
                 Dra. Adriana Busato, proprietária do Haras FB

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